sábado, 6 de novembro de 2010

Cidade de Parati

Parati

A cidade de Parati é muito especial. Uma cidade em que o tempo parou, mas parou só na aparência, tem um aspecto de filme de ficção. Seus casarios, suas ruas nos transportam para o passado, não qualquer passado, mas o nosso, a nossa história. Um espaço em que, ainda, podemos ver como nosso país foi forjado. E não bastando essa viagem à moda colonizadora, temos a beleza das praias, da floresta, da montanha, da fauna e flora, que nos faz perder o fôlego.

Uma cidade de povo simpático e afável, povo que preserva os costumes e os seus monumentos, com orgulho de fazer parte desse universo. Passear pelas suas ruas, coberta com pedras pé-de-moleque, é um convite a imaginação, como se estivéssemos a passear ao lado das personagens da nossa história, que por lá passaram. Uma aventura maravilhosa.

História de Parati

Parati, na língua tupi-guarani, significa o nome de um peixe da família da tainha, comum na região, e muito apreciado pelos índios.

Antes da chegada dos colonizadores a região era habitada pelos Guaianás que viviam da caça, da pesca, da agricultura de subsistência e coleta

Os colonizadores chegaram à região da baía da Ilha Grande em 1502 durante a segunda expedição ao Brasil.

Os portugueses distribuíam as terras da colônia por meio da doação de sesmaria, a sesmaria era um instituto jurídico português, criado pela Lei das Sesmarias em 1375, que regulamentava a doação de terra para produção, onde o donatário recebia uma porção de terra e tinha a obrigação de colonizá-la no prazo de cinco anos, sob pena de perdê-la.

Parati pertencia à capitania de São Vicente e a doação de sesmaria era feita a colonos da própria capitania. Em 1593 foi doada nas proximidades do rio Parati-Mirim a primeira sesmaria em Parati.

No entanto é possível que antes da doação da sesmaria já existisse um povoado no local. Vários indícios nos levam a crer nessa teoria como:

  • A passagem, em 1563, do padre Anchieta em visita as aldeias de Iperoig (Ubatuba) e Araribá (Angra dos Reis), visita com intuito de idealizar um tratado de paz entre os portugueses e os índios Tamoios (ou Tupinambás);
  • Em 1573 o Governador Salema envia uma expedição de mercenário que percorrem de Cabo Frio até Parati em busca de índios Tamoios, fugidos da Guerra de Cabo Frio, para escravizar ou exterminar;
  • Em 1596 o Governador do Rio de Janeiro Salvador Correa de Sá envia uma expedição comandada pelo seu filho Martim Correa de Sá, ao interior do Brasil, em busca de metais preciosos e índios tamoios, eles utilizaram a trilha feita pelos guaianases.

Em 16 de agosto de 1630 chega a Parati João Pimenta de Carvalho, que era Capitão-Mor e procurador da Condessa de Vimieiro, donatária da Capitania de São Vicente, o mesmo possuía poderes para doar sesmarias.

Segundo alguns registros históricos no dia 16 de agosto de 1630, data em que chegou a Parati, João Pimenta de Carvalho fundou um povoado onde hoje é o Morro do Forte e construiu uma capela em homenagem a São Roque.

Em 1624 autorizou uma doação de sesmaria em Parati - Mirim em nome de Fernando Loredo Coronel e Diogo Bermudes e em 1630 doou uma sesmaria para sua filha, Maria Jácome de Melo. A sesmaria de sua filha contava com légua e meia, tendo o rio Perequê-Açu ao centro, local que futuramente Parati se expandiria.

Maria Jácome de Melo doou parte de suas terras para a construção de um novo povoado, a área localizada entre os rios Perequê-Açu e Patitiba (atual Mateus Nunes). Ao doar as terras impôs duas condições: a construção de uma capela ao santo de sua devoção (Nossa Senhora dos Remédios) e respeito aos índios guaianases que viviam ou passavam pela região.

Em 1646 foi construída a Igreja Nossa Senhora dos Remédios e o pequeno povoado cresceu em sua volta.

Parati pertenceu ao município de Angra dos Reis até 28 de fevereiro de 1667, quando o Rei D. Affonso VI, através de carta régia eleva o povoado à condição de vila com o nome de Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. O aniversário da vila passou a ser comemorado nesta. Nessa época a população da vila era de aproximadamente 3000 pessoas.

Com a descoberta de ouro na região das Minas Gerais a vida de Parati sofre uma grande transformação. A construção da Estrada Real, utilizando uma antiga trilha indígena, que ligava a cidade de Parati a Ouro Preto, para escoamento do ouro, diamantes e outras mercadorias, transformando o porto de Parati que passa a ter grande importância, já que as riquezas trazidas das Minas eram escoadas para o Rio de Janeiro pelo porto de Parati.

Esse intenso fluxo de riquezas transforma Parati em um grande mercado de negociação de ouro, circulando, assim, um grande volume de riqueza, que as autoridades da metrópole instalaram uma repartição oficial responsável por registrar e cobrar os impostos na cidade, essa medida é tomada pela coroa para tentar impedir o contrabando.

A Estrada Real (Ouro Preto/Parati) era denominada de Caminho Velho e foi aberto pelos Bandeirantes paulistas, por volta de 1630, que adentraram por Minas Gerais em busca de ouro e pedras preciosas. Com a descoberta de ouro na Vila Rica (atual Ouro Preto) o transporte do ouro era feito em lombo de mulas até Parati e seguia de navio até o Rio de Janeiro. A estrada era constituída de trilhas muito longas e de difícil trânsito, facilitando assim a ação dos bandidos e ladrões de cargas. Era uma viagem que levava, aproximadamente, 75 dias.

A Estrada Real tinha esse nome por ser uma estrada oficial, e foi construída por ordem da coroa portuguesa, para o transporte, obrigatório, de produtos, pessoas e animais, dessa forma a coroa possuía mais controle para a cobrança dos impostos. As penas para quem se desviasse da Estrada Real eram muito duras.

Por ser um caminho muito demorado e perigoso a Coroa determina a abertura de outra estrada, chamada de Caminho Novo, e a partir de 1710, fica proibido o transporte pela estrada de Parati. Essa medida traz sérios problemas para a vila.

O cultivo da cana-de-açúcar e a produção de aguardente, a partir do século XVII, traz para Parati um grande movimento e em 1820 a Vila contava com 250 engenhos e 150 destilarias. A produção era tão elevada que a expressão "Parati" passou a ser um sinônimo de cachaça, a produção era artesanal e perdura até hoje.

Com a cultura do café a estrada foi retomada e passa a ser utilizada para o escoamento da produção cafeeira do Vale do Paraíba.

A proibição ao tráfico de escravos, decretada pelo regente Padre Diogo Feijó, faz com que o desembarque de africanos, uma atividade ilegal, passe a ser feito em Parati, onde o antigo Caminho do Ouro é utilizado para levar os escravos ao seu destino.

A vila de Parati é elevada a condição de cidade pelo Decreto Lei de 1844, do Imperador Pedro II do Brasil.

Com a construção da ferrovia Barra do Piraí (1864) o escoamento do café do Vale do Paraíba passa a ser feito por ela e com isso Parati é condenada, de novo, ao ostracismo, gerando uma grande decadência.

Em 1954 a reabertura da estrada (Parati – Cunha) atrai para cidade o interesse turístico, já que ela apresenta uma riqueza natural imensa e conta com seu, bem preservado, patrimônio histórico. Sendo Parati redescoberta. Esse conjunto que engloba a natureza com a história a transforma em um pólo turístico sem precedentes. E a sua maior expansão se dá com a construção da rodovia Rio – Santos (BR 101) em 1973.

Esse grande interesse pela cidade e seu patrimônio faz com que seu conjunto histórico seja tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN), em 1958.

Segundo a UNESCO, Parati possui o conjunto arquitetônico mais harmonioso do século XVIII do Brasil. São mais de 400 construções baixas ou assobradadas em torno de monumentos civis, religiosos e militares. Seu traçado urbano definitivo foi estabelecido a partir de 1726, segundo moldes da então moderna engenharia militar, com ruas mais largas e planta baixa em forma de leque ou meia-lua.

Deve ser mencionada, também, a influência da Maçonaria na engenharia e arquitetura, quer através dos símbolos maçônicos estampados à frente de muitos sobrados, nas esquinas, onde três cunhais (colunas) em cantaria (pedra lavrada) que formam um hipotético triângulo, símbolo maçônico por excelência.

Parati, hoje, vive do turismo e oferece uma boa estrutura de hotéis e pousadas, além de eventos e passeios para todos os gostos. Conta, também, com excelentes restaurantes, que prezam as tradições culinárias, trazendo pratos saborosos para os paladares mais exigentes. Tudo isso que Parati oferece é acompanhado com um ar de "túnel do tempo" embalado pela beleza de sua mata e seu mar.

Eliana Rocha